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Mostrando postagens de agosto, 2017

O olho gordo e o Opala

Victor (VM7) Nunca entendi muito de carros, mas sempre apreciei o Opala. Modelo maravilhoso, sempre presente nos corações daqueles que admiram a boa arte do design automobilístico. É o tipo de carro que arranca suspiro das pessoas, com seu ronco cavernoso, curvas elegantes, demonstrando o melhor que a indústria dos anos 70 tinha a oferecer. Não há como deixar de observar quando ele passa, é impossível ignorar. Por conta desse magnetismo intrínseco do Opala, cometi um pecado que nunca sonhei  cometer. Era noite, fim de inverno, e lá estava eu, caminhando para a faculdade, templo de conhecimento e pensamentos suicidas, quando me deparei com o beberrão mais belo que o Brasil já viu. Estacionado na avenida, bege como café com leite, duas portas, traseira monumental enfeitada por faróis redondos e vermelhos. As luzes dos postes destacavam as curvas com linhas brilhantes, ofuscando os carros ao redor. O esmero do proprietário era evidenciado pela limpeza, a pintura imaculada, lata

Solidão pegajosa

Foto: Heidi Swanson O celular despertou às sete e meia. Fátima se sentou na cama, sentindo o frio da manhã atingir seu corpo em cheio. Com amargura ela olhou para o travesseiro, desejando dormir para sempre entre aqueles cobertores quentes e acolhedores. Lá fora o barulho dos carros era intenso, revelando que a cidade já despertara para mais um dia vazio, e Fátima se levantou para receber a parte que lhe cabia naquele vazio todo. Escovou os dentes na semiescuridão do banheiro minúsculo, ouvindo os sons do apartamento do andar de cima. Alguém tomava banho, duas pessoas conversavam, mas ela não podia ouvir as palavras. Uma descarga foi puxada, a conversa se encerrou e uma porta se fechou. O chuveiro continuou ligado. Fátima tentou imaginar como seria a sensação de compartilhar a vida com outra pessoa, ser íntima de alguém. Provavelmente o casal do andar de cima tomaria café da manhã junto. Talvez não fosse nada de muito especial, mas haveria a conversa, o toque, o contato visual.

O filho de chocadeira

- Puta que pariu essas crianças! Todo sábado, dia de limpeza, Alexandre varria o quintal com o máximo de esmero possível. Não era apenas uma tarefa rotineira e necessária, mas terapêutica para ele. Enquanto varria as folhas e a terra que se acumulavam ao longo da semana, Alexandre pensava nas dificuldades da vida, refletia sobre os problemas surgidos ao longo dos dias anteriores, antevendo as possíveis soluções a serem perseguidas na semana seguinte. Mas sábado não é dia tranquilo. No sábado os pais largam os filhos na rua. Crianças correm para lá e para cá, soltando pipa, andando de bicicleta, gritando, perseguindo cachorros, enfim. Sábado é dia de pandemônio juvenil. E, naquele sábado, os pensamentos de Alexandre foram interrompidos por risadas infantis no portão de sua casa. - Ô mulherzinha! Ô menininha! – Gritava um menino, de no máximo 12 anos, bochechas gordas e sujas de terra. – Você lava roupa também? Faz a janta? Minha mãe está sem diarista, você não quer ir trabalhar