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Mostrando postagens com o rótulo Amor

Por uma garrafa de uísque

Aquele dia foi peculiar, mesmo para alguém como eu. Acordei com a cabeça doendo, resultado do excesso de álcool da noite anterior. Não conseguia lembrar como fora parar ali, mas sabia que estava em casa, na minha cama mofada e fétida. Tudo fedia no meu apartamento. A umidade pegajosa fazia as paredes exalarem um odor insuportável, que se misturava ao cheiro de comida apodrecida que vinha da pia e do fogão; o sofá era um monte de pano velho, poeira e pulgas; minha cama era muito antiga, e o colchão não passava de uma tira fina de espuma, que transformava as horas de sono em dores nas costas. E era só isso, um único cômodo sujo e bagunçado. O cheiro daquele lugar era inconfundível, e quando acordei tive certeza de que estava em casa. Levantei e me vesti. Na verdade apenas joguei o casaco velho sobre os ombros, pois havia dormido com a roupa do dia anterior, nem mesmo havia tirado as botas surradas. Ao pôr os pés na rua, percebi que não tinha para onde ir. Caminhei sem destino pelos...

Girassol para o falecido

Krappweis Este texto foi publicado, originalmente, em março de 2013. Por uma razão que desconhecia, acabou comparecendo àquele velório, sem conhecer ninguém, nem mesmo o morto. E era contra velórios, achava o evento insólito demais, pessoas chorando ao redor de um cadáver encaixotado. Algumas torradas e xícaras de café para aliviar o desconforto da cena, e ele se obrigou a chegar perto da estrela da festa. Levou um susto quando viu que, estirado no caixão diante dele, estava ele mesmo. Algodão nos ouvidos e nas narinas, terno preto ironicamente bem desenhado e cabelo penteado. No rosto macilento havia um sorriso abobalhado, daquele tipo de que suaviza o nervosismo. Sentiu-se mal diante daquilo, uma fraqueza estranha, e também um vazio que desconhecia, uma mistura de tristeza e raiva, como se nada mais tivesse graça, motivo, sentido. Percebeu os olhos das pessoas, julgando-o. Não, ele não morreu, estava ali e todos os viam. Era apenas uma parte sua que havia falecido: a alegri...

Pele fria

Este texto foi originalmente publicado em setembro de 2011. Heirate mich . Pobre homem que chorava aos urros. Arrastava-se pelos arredores da igreja, cheio de dor e amargura, deteriorando. Alimentava-se dos restos que encontrava no lixo das casas próximas, ou da comida que o padre, caridosamente, às vezes lhe servia. Magro e assustador, com a barba dominando-lhe a face e os cabelos sujos pelos ombros, causava espanto nas crianças e repulsa nos adultos. Nos fundos da igreja havia um cemitério, no qual sua esposa estava sepultada, e o amor que ele tinha por ela era tão forte, que a perda o enlouqueceu. Não conseguiu se conformar com sua morte, e as lembranças dos bons momentos que passaram juntos estavam sempre a lhe perturbar. Passava as noites sobre sua lápide, entregue a lamúrias infindáveis, até o galo saudar o dia. Alheio ao mundo e às outras pessoas, cada vez mais animalesco e agressivo. Nos dias de frio, ardia em seu peito a chama da angústia, pois ele lembrava do calo...

Poesia de cada dia

VH Hammer Existe em todos uma escrita invisível um conjunto de ações da alma acima dos termos físicos maior do que o simples ir e vir e mesmo o que despreza a arte ou se julga incapaz termina o dia como um poeta autor de mais um conjunto de palavras sete poesias por semana trezentas e tantas por ano mesmo em dias ébrios de poesias surreais e nos dias de drama, com palavras azuis versos fatais nos dias de fúria épicos gloriosos nos de alegria estrofes risonhas em dias de diversão alegorias guturais em dias sombrios e mesmo os mais fúteis e vazios são poetas com suas palavras fúteis e vazias e os desafortunados, criminosos, pecadores, cada um com sua escrita, em muitos tomos ao longo da vida, palavras de amor, palavras de alegria, palavras de dor palavras de ódio coleções de volumes e mais volumes que apodrecerão na poeira quando o poeta se for ou ganharão destaque na biblioteca da história Qual é sua poesia hoje? ___________________________ 07/11/2013

A dona de toda a beleza

dmolla Vi o amor da minha vida no topo da pequena elevação. Atrás dela o sol de fim de tarde brilhava com intensidade num céu azul. Subi devagar, encantado pela visão, pensando na paixão que sua beleza acendia em mim. E naquela tarde ela era a própria encarnação do fascínio, em seu vestido ciano, cabelos negros e longos dançando na brisa que vinha do mar, e o sorriso me convidando.

Quando Ares abençoa o Amor

Pergunto se você quer lutar ao meu lado por nossa vida única lutar para sermos um com nossos escudos lado a lado. E o que nos une nesta luta é Amor uma certeza de Vida mais forte mais poderosa que qualquer ira alimento perfeito para nossas espadas. Batalha que venceremos unidos como um único ser nós dois contra qualquer inimigo para nossa redenção gloriosa. Se você se cansar eu te seguro pelos ombros te defendo e espanto os inimigos te carrego em meus braços. No fim do dia, sob um céu dourado nos deitaremos na grama elevada na colina que defendemos com vigor nosso Amor defendido com unhas e dentes. Poderemos despir nossas armaduras e nos unir em um tipo diferente de batalha protegidos pela noite e por nosso calor e teremos paz por toda a vida. ___________________________ 12/05/2013.

Aconchego

A ira violenta que domina a mente se mistura à tristeza que pesa no peito tudo em uma única onda de pesar. Mas tudo isso falece diante de seus olhos, Coruja do meu céu escuro, aconchego brilhante no meu mundo sem luz. ___________________________ 03/05/2013.

Amor antigo

Viaja pela minha existência, suave como pluma e livre como pássaro, um amor antigo e belo, inexorável feito o destino, corça arisca a me provocar pela planície. ___________________________ 26/04/2013.

A última gota

JuliaStarr A última gota do cantil, sugada com toda a vontade do mundo para matar a sede mais violenta. No meio do deserto mais vasto e árido, sob um sol escaldante e impiedoso, a última gota de água desceu pela garganta, abençoando aquele corpo maltratado, dando-lhe vida, mas anunciando a morte certa. Assim foi o último beijo.

Silêncio quebrado

modcam No fim do mundo havia um velho dragão, cuja alma era quase tão idosa quanto o próprio mundo. Ele não era um manso, mas amava a paz, adorava o silêncio de sua caverna e o gotejar incessante das águas que escorriam pelas estalactites. Adorava rasgar os céus em alta velocidade com suas asas gigantescas, varando as nuvens, mergulhando em direção ao chão e arremetendo quando estava prestes a tocar o chão.

Vulcões e lençóis

Na calmaria da noite ele a tomou nos braços, e o mundo se transportou para outra realidade. Só havia a luz fraca da noite inundando o quarto numa atmosfera surreal, quase fantasmagórica. Os lábios dos dois se uniram num misto de carícia e luta, um beijo agressivo mas cheio de dança, no qual as línguas se cortejavam com suavidade e movimentos lascivos.

Poema de vontades

adrilupett Tudo o que queremos é ver o brilho da explosão de um canhão cuspindo felicidade contra uma muralha de empecilhos. Tudo o que desejamos é ouvir os gritos da esperança correndo livre pelos campos, feliz aos risos. Tudo o que precisamos é sentir os golpes frequentes e avassaladores do amor e da humildade Tudo o que esperamos é sentir o sangue pulsando forte na veia enquanto os lábios se tocam. Tudo o que pedimos é poder escalar montanhas de Serra Dourada arcos plenos de pura alegria Tudo o que almejamos é sentir a noite e seu perfume de névoa ares frescos em pulmões palpitantes. ___________________________ 15/02/2013

Aγάπη

nyee Amigo da dor, irmão da paixão, ele caminha suave, sorrindo. Observa tudo em silêncio com seus olhos astutos e faiscantes, cheio de ironia e calor, mestre de todos os instantes. Desejado, amado, querido, primo do ódio, e sempre odiado. Tantos cedem, tantos se entregam, felizes ou desesperados, criam canções e danças para celebrá-lo, para recebê-lo. Divindade temperamental, sofisticado e imponente, não conhece a humildade nem mesmo quando religioso, e castidade muitas vezes é esquecida quando ele está por perto. Possui inúmeras máscaras, adequadas a ocasiões diferentes, e as usa para andar entre os seres, tocando-os com suas mãos quentes, acariciando as almas do universo sem distinguir mortais e imortais. É fraterno ao lado de pais e filhos; ardente quando vem depois com paixão; cristalino quando amadurece; selvagem quando está em fúria; gélido quando não é bem vindo; sem jamais deixar de ser leal. Não responde a ninguém, dono de todo o univ...

O quadro na parede

Alfi007 Na parede o quadro parece vivo, com seu verde gritante pontilhado de flores amarelas, e contra o céu azul, montanhas, tão grandes que rasgam as nuvens, enquanto pássaros felizes voam por ali, cercados por borboletas de tantas cores. Na parede o desejo, a ambição, uma certeza que vai perdendo a cor, além de minhas forças, fora do alcance. O quadro zomba de mim, tão brilhante. Me convida, mas ao mesmo tempo desdenha, certo de que jamais pisarei naquela grama, certo de não serei capaz. Em seu desafio mudo a paisagem divina desperta orgulho, incendeia meu peito antigo, acende as chamas da Caverna, de onde eu grito em fúria. Com as entranhas ainda quentes abandono meu repouso. O que meu coração diz é impronunciável, incompreensível, mas se ele usasse palavras, ele estaria gritando para eu voar bem alto, acima das nuvens, acima das esperanças, e invadir o quadro insolente. Lá, como em Lá , eu serei feliz. Naquela paisagem, que mesmo provocadora ...

Simplicidade

Ele escreveu um poema sem símbolos; ele compôs uma canção sem refrão; ele preferiu um verso sem rima. Para que ela entenda. Para que ela saiba. Para dizer que a ama. Ele desenhou um girassol sem contornos; ele dançou uma dança sem música; ele cantou uma balada sem tristeza. Para que ela conheça. Para que ela perceba. Para dizer que a ama. Ele sorriu um sorriso sem segredos; ele sonhou um sonho sem frustrações; ele falou uma frase sem dúvidas. Para que ela o ame. Para que ela o beije. Para dizer que a ama. ___________________________ Marlon Weasdor, 29/08/2011.

União

Séculos desaparecem, sólidos em linhas históricas, relatos de vergonhas e glórias, os milênios evanescem. Areias do tempo deslizam, Cronos devora o universo, sendo eterno, destino certo, vozes distantes ecoam. Anos ficam para trás, mas Coruja e Dragão permanecem contra o tempo tão fugaz. Antigo amor não se desfaz, desde o nascer do mundo tecem seus eternos desejos de paz. ____________________________________ Marlon Weasdor, 03/07/2012. Sobre amar alguém e ter a certeza de que já amou essa pessoas várias vezes no passado.

Oráculo

"Ouço o vento uivando pelas colinas vermelhas. As casas brancas brilham ao Sol com uma força inigualável fazendo meu peito pular de júbilo, me fazendo suspirar, enquanto melodias longínquas são entoadas em minha mente, tão distantes quanto o horizonte, canções de alegria e conquista. Olho para a beleza das águas, o que há de mais azul no mundo, o encanto eterno de mitologias sem fim, de deusas e deuses que nunca morreram. Na claridade do dia perfumado, com flores em cada pedaço de ar, respiro fundo ao perceber que finalmente atravessamos o mundo e voltamos para nosso lar sagrado, A Mais Bela." ___________________________ 09/11/2011. Um poema que encontrei guardado. Para minha surpresa ele não havia sido publicado. Fala de algo tão importante, foi um erro ter me esquecido dele... Enfim, aí está!

Tijolo após tijolo

O homem trabalhava calmamente no porão da casa velha. Não se incomodava com o cheiro forte de mofo, mas de vez em quando sua renite o fazia espirrar e coçar o nariz com a parte de trás das mãos. Lá fora a chuva ainda caía, insistente, e as nuvens escuras traziam uma noite precoce, embora a tarde ainda estivesse na metade. Com a colher de pedreiro ele ajeitava a massa sobre os tijolos, enfileirando o próximo com cuidado. A lentidão de seu trabalho denunciava sua falta de habilidade com aquele tipo de tarefa, mas a consistência da massa e o esmero ao assentar cada tijolo demonstravam que ele estava se esforçando para fazer um trabalho decente. A parede, formada por blocos de concreto, foi surgindo lentamente num canto do porão mal iluminado. Era um espaço pequeno, com pouco mais de um metro quadrado, uma dessas sobras de espaço que ocorrem em construções mal planejadas. De tempos em tempos ele verificava a verticalidade da parede com um prumo. Também usava um nível em cada file...

Crepúsculos

Foto: lyric1459 - Alô. - Oi. - Ah, é você... - Sim. Não desligue de novo, por favor...! Ainda está aí? Alô? - Sim, sim... O que quer? - Eu... só queria te ouvir mais uma vez... - Olha, já tivemos esse tipo de conversa antes, você já me ligou falando a mesma coisa, e você sabe que eu não quero falar sobre nós. Aliás, você sabe que eu não quero falar com você. Estou tentando te esquecer, tenho o direito que querer distância de você, e você deveria respeitar isso, já que diz me amar tanto. - Ok, ok, desculpa. Eu sei que é errado. Mas desta vez eu realmente só queria ouvir sua voz... Não tenho esperança nenhuma sobre a gente, eu só... precisava te ouvir. - Então pronto. Já ouviu. Vou desligar. - Não, calma! - O que é? - É que... você está sendo hostil demais... - E o que esperava de mim? Carinho? Um tratamento especial? Simpatia? O que aconteceu com você? Ficou idiota de repente? - Calma, calma, por favor, eu não liguei para brigar! - Então pra quê ligou? - Já falei, ...

Guille e a bola

Olá. Meu nome é Guille. Guille de Rais. Como o de Gilles de Rais, aquele francês maluco, amigo de Joana D'Arc, que matava todo mundo. Meu pai me deu esse nome. Não sei porque, mas o infeliz achou que ter o mesmo nome que um assassino do século XV era algo legal. Nem francês eu sou, apesar de ter muitos antepassados franceses. Eu até entendo que ele quis me dar um nome imponente, algo que remetesse a terror, medo, força, sei lá. Às vezes acho que era só para combinar com minha cara de mau. Sim, meu pai sabia que eu teria cara de mau desde quando eu era um bebezinho. Mas não me levem a mal, eu gosto do meu nome, só quero deixar bem claro que não sou nenhum depravado, pedófilio, infanticida, assassino, pirado, essas coisas.