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O quadro na parede

Alfi007

Na parede o quadro parece vivo,
com seu verde gritante
pontilhado de flores amarelas,
e contra o céu azul, montanhas,
tão grandes que rasgam as nuvens,
enquanto pássaros felizes voam por ali,
cercados por borboletas de tantas cores.

Na parede o desejo, a ambição,
uma certeza que vai perdendo a cor,
além de minhas forças, fora do alcance.
O quadro zomba de mim, tão brilhante.
Me convida, mas ao mesmo tempo desdenha,
certo de que jamais pisarei naquela grama,
certo de não serei capaz.

Em seu desafio mudo
a paisagem divina desperta orgulho,
incendeia meu peito antigo,
acende as chamas da Caverna,
de onde eu grito em fúria.
Com as entranhas ainda quentes
abandono meu repouso.

O que meu coração diz
é impronunciável, incompreensível,
mas se ele usasse palavras,
ele estaria gritando para eu voar
bem alto, acima das nuvens,
acima das esperanças,
e invadir o quadro insolente.

Lá, como em , eu serei feliz.
Naquela paisagem, que mesmo provocadora
é minha por direito, meu lar.
Se me zomba, é para me instigar,
e na ira meu corpo enorme se move,
agitando as rochas e o ar
com minhas asas ancestrais.

E aquela que rege meu coração antigo
sabe que ela é o quadro, a paisagem
tão desejada, tão zombeteira,
mas tão acolhedora e amada.
Em idioma antigo eu recito poemas
que ela jamais poderá ouvir,
para honrar um amor imortal.
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Marlon Weasdor, 09/07/2012.

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