Alceu se levantou com dificuldade, tentando reprimir uma reclamação contra o genuflexório, aparentemente mais duro a cada missa. Apalpou os joelhos para amenizar as dores e ficou observando os detalhes da capela enquanto aguardava o início da celebração. Diante do altar estava uma imagem de Santa Terezinha do Menino Jesus, cuidadosamente instalada pelas freiras sobre um estrado de madeira. Ao redor da santinha havia um grande número de rosas, aguardando a benção que viria ao fim da missa. Os únicos sons a romper o silêncio eram preces sussurradas ecoando nas paredes altas, e os folhetos que alguns usavam para abanar o calor intenso que outubro trouxe a tiracolo. A quietude foi quebrada pelos estalos de passos apressados nas escadas da entrada. Sem fôlego, uma menina pediu bênção ao padre, que estava à porta, saudando os fiéis retardatários. Algumas pessoas se voltaram para ver de quem era a voz infantil, tão cheia de urgência e aparente cansaço. Alceu também se virou no banco, e...
Pieter Aertsen A porta das ovelhas não mais existe O tanque onde as águas curavam está vazio Somente indesejáveis, leprosos e inválidos, persistem Transeuntes torcem o nariz, ébrios de ódio febril Para eles apenas a desgraça ali reside Cegos, riem por não enxergar a Graça e nem o brilho Pois brilha a voz dos cantores leigos e insistentes E os versos acalorados de poetas em exílio Distantes por cantarem verdades prementes Na fumaça do tabaco os evitados se abraçam em alívio Por ter em Betesda conforto e irmandade ardente E joelhos se dobram, do Cordeiro vem o auxílio Num mundo de carne, de euforia demente Os inválidos festejam na alegria do Altíssimo Que os uniu na busca da Verdade, e isso só eles entendem Cresce a tapeçaria de dourado fio Reunindo louvores de diversas gentes Imagens felizes de sorrisos sofridos É assim que vivem, à beira da piscina, os doentes Rejeitados e cuspidos pelos orgulhosos filhos Do mundo sem cor, da vida dopada, da histeria estr...