No escuro ouço o choro
de pequena criança
e então eu corro.
Não sei se chora ou canta.
Pequena, no topo de um morro,
sob o luar que me encanta,
está a menina, e com esforço
meu caminhar a alcança.
Em sua mão direita
vejo brilhar um punhal.
Em sua mão esquerda
vejo a rubra pena do mal.
Eis que em sua boca estreita
sorriso cruel surge, afinal.
A lâmina sobe, ligeira,
o ar aguarda o sinal.
Mudo, nada posso dizer.
“Não me condene a isso!”
Preso, não posso me mover.
“Não imponha isso!”
Não sou cego, mas não não quero ver.
“Não me obrigue a isso!”
Lúcido, não conseguirei esquecer.
“Não, não me condene a isso!”
Na noite um lampejo.
O punhal desce, finalmente.
“Sua alma, meu desejo...”
Ela fere o próprio ventre
e eu não creio no que vejo:
ela morre sorridente.
Seu espírito me desperta com um beijo.
Seguindo impulso desconhecido
apanho a pena de sua mão.
Aquele poeta velho, esquecido,
acorda em meu coração.
Mergulho, resoluto, decidido,
A caneta no sangue do chão.
Junto a seu corpo, ajoelhado,
escrevo em sua pele alva:
“Eis o ser macabro
que condenou-me a alma,
se foi, e me deixou marcado,
para sempre, errante sem causa.”
Ensangüentado, caminho sozinho.
Perdido na noite e abandonado.
Sigo sem destino, sem caminho.
Àquela criança estou ligado
por laço perverso, malígno.
Angústia e morte estão ao meu lado.
“Por que me condenou?”
“Porque eu sou o destino.”
08/09/2007
Antigo, muito mais que amador.
Triste.
ResponderExcluirPorém devemos fazer como o lírico: achar em cada acontecimento triste ou macabro, uma forma de criação, algo bom.
Na morte da criança pôde-se ter inspiração ao poeta.
Não induzo a prática de suicídio ou homicídio, infanticídio; de maneira alguma!
Sou a favor da vida.
Mas para segui-la, é necessário achar o seu meio, a sua inspiração para viver cada novo dia intensamente.
Um forte abraço,
Lucas Neves.
A inspiração está em todo lugar!
ResponderExcluirE a vida é uma espécie de Arte, a meu ver, pois, como o Lucas disse, é preciso ter inspiração para viver.
Viver é um ato criativo.
Embora este seja apenas um poema de terror, e não tenha nenhum significado implícito, ou intenção especial. Fico feliz que alguém tenha visto nele alguma mensagem positiva
E é provável que a criança da história sequer fosse uma criança...
Agradeço seu comentário, Lucas! Foi a primeira vez que alguém falou algo sobre um poema de terror meu!
Hum adorei o tom sombrio da sua poesia, gosto muito de ousar e de criar em cima do mistério. Recentemente escrevi uma poesia entitulada Sangue na Lua, e tem bem esse tom de mistério, porém revela mais dom que um simples tom misterioso! Muito bom seu texto com certeza virei mais vezes a sua caverna, prazer Marlon, bjos Pri!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Priscila!
ResponderExcluirQue bom que gostou.
Tem mais alguns poemas desse tipo, pode ler na tag "Terror" aqui ao lado. ===>
hahaha!
E divulgue esse poema!
Divulgue e nos avise!
=D