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Cotidiano 23


Na estação, todos os trens são idênticos.
Todos as pessoas são a mesma criatura,
inimigos incansáveis ao seu redor,
presença constante nos dias felizes e nos dias tristes.
E você é só um grão de poeira no vento,
apenas uma alma que se perde nos gritos.

Sem enxergar a vida ao seu redor,
vendo apenas o ar imundo da cidade,
o silêncio de dentro é mortal, é nocivo,
enquanto os trens urram sem parar,
enquanto os outros vomitam palavras.
Hoje você é um deles, amanhã você os repudia.

E o mundo te molda, argila.
O mundo te moldou, fez o que quis com você,
 e a vida te transformou, te criou.
Veja a mancha à sua volta,
a velocidade das pessoas, correndo, um borrão.
Você faz parte disso, desse tudo imundo.

Agora você destrói tudo dentro de si.
Suas veias latejam, pois o ciclo acabou.
Só o que resta é uma canção bonita
quando você apaga os terrores que viveu.
As manchas do passado desaparecem
quando você incendeia e se livra do teu mal.

E enquanto você destrói esse mundo em sua alma,
a vida corrói o mundo aqui fora, e você vai junto.
Mas você prepara o solo para as novas sementes,
ignorando os trens que correm e urram,
as pessoas que se tornam borrão à sua volta
e a cidade que cai aos pedaços.

Você conhece o futuro e sabe o destino.
"Seis de seis, no vinte, hoje é vinte e três",
um poema que acredita e conhece a luta.
Mais um ciclo ignorando os malditos trens
e as pessoas na mancha, seus inimigos.
Daqui doze meses teremos mais destruição anual.

20/09/2011.

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